domingo, 23 de novembro de 2008

"Escrever é como viajar"

Admirador de Robert Louis Stevenson, autor de A ilha dos Piratas, Le Clézio acredita que o mérito principal da literatura é te levar para uma viagem fora de si, tanto para quem lê como para quem escreve. A literatura se torna árida quando voltada para as inquietações introspectivas. Assim, Le Clézio elege o romance de aventuras como sendo o gênero de excelência da literatura contemporânea. Segundo ele, esse tipo de narrativa pretende ser uma espécie iniciação, que liga a experiência individiual aos desafios do mundo fora dos limites da família ou de nossa casa. Então, que tal viajarmos na onda do Le Clézio?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Entre no clima...... O africano!!!


A principal obra da carreira de Le Clézio, que lhe rendeu o mais importante prêmio da literatura mundial de 2008. O africano. Eis aí um pequeno trecho do primeiro capítulo do livro. Leia e entre no clima!!!


"A África era mais o corpo que o rosto. Era a violência das sensações, a violência dos apetites, a violência das estações. A primeira lembrança que tenho desse continente é a de meu corpo coberto por uma erupção de bolhinhas causadas pelo extremo calor, uma afecção benigna de que os brancos sofrem quando ingressam na zona equatorial, com nomes cômicos como brotoeja ou borbulha. Estou na cabine do navio que avança lentamente pela costa, ao largo de Conakry, Freetown, Monróvia, nu na caminha, a escotilha aberta ao ar úmido e o corpo polvilhado de talco, com a impressão de estar num sarcófago invisível ou de ter sido apanhado como um peixe em puçá e passado na farinha antes de ir à fritura. A África, já me tirando o rosto, dava-me um corpo dolorido e febril, esse corpo que a França me ocultara na doçura anemiante da casa de minha avó, sem instinto, sem liberdade.

O que eu recebia no barco que me arrastava para aquele outro mundo era também a memória. O presente africano apagava tudo que o tinha precedido. A guerra, o confinamento no apartamento de Nice (onde, nos dois cômodos de uma espécie de água-furtada, éramos cinco a viver, aliás seis, contando a empregada Maria, de quem minha avó resolvera não abrir mão), as rações, ou então a fuga na montanha, onde minha mãe se escondia por medo de ser levada pela Gestapo - tudo isso se apagava, desaparecia, tornava-se irreal. Daqui em diante, para mim, só existiria antes e depois da África."

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Prêmio Nobel: o desejo, a cobiça


Trata-se do ápice que um escritor pode chegar. Não há maior prestígio na literatura mundial que receber o Nobel. Foi idealizado por Alfred Nobel, um químico e industrial sueco. A entrega começou a ser realizada em 1901. A Academia sueca é que decide os ganhadores. Em 2008, Le Clézio teve a honra de receber.

Escritor nômade, um crítico do lado mercadológico da sociedade


Le Clézio tem experiências interessantes em sua vida. Em 1970, viveu alguns meses na América Central, em tribos indígenas no México e no Panamá. " Essa experiência mudou toda minha vida, minhas idéias sobre o mundo da arte, minha maneira de ser com os outros, de andar, de comer, de dormir, de amar e até de sonhar", diz ele. Apaixonado por viagens, fez de seu hobby uma maneira de evoluir como escritor. Le Clézio se considera um homem itrospectivo, só, que tem na escrita e nos livros a companhia que as vezes lhe falta. Criou diversos diálogos entre indígenas, maias dialogam com os indígenas emberás da Colômbia; e os nômades do sul do Marrocos vivem com os escravos fugidos das plantações das Ilhas Maurício. Recebeu o apelido de escritor nômade. Considerado rebelde nos anos 80, escreveu livros mais tranqüilos, porém, manteve sempre sua fama de escritor inovador, original. Para ele, a literatura é a forma de expressar seus sentimentos e opiniões. Tem uma postura contrária aos interesses materialistas da sociedade ocidental, e mantém uma postura crítica em relação ao lado mercadológico da vida.

A quarentena

Um romance de aventuras, em que a natureza está no centro, sendo a razão das reflexões. O livro: "A quarentena", do ano de 1997, é a estória de um grupo, composto por europeus que é obrigado a passar um período numa ilha, denominado de quarentena. Essa ilha é repleta de mistérios, perigos e aventuras. Problemas de relacionamento vão surgir, junto com delírios amorosos e êxtase.

Jean Marie... Quem??

"Um escritor da ruptura, da aventura poética, e do êxtase sensual, o explorador de uma humanidade mais além da civilização reinante." É assim que a academia sueca de letras define o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2008. O francês, Jean Marie Gustave Le Clézio é o nome da fera. Para muitos, desconhecido, Le Clézio nasceu em Nice, em 1940. Formou-se em literatura francesa e lançou seu primeiro livro aos 23 anos:"Le Procès-Verbal". Tem dupla nacionalidade, já que é filho de um mauriciano. Inspirado por sua origem, escreveu um de seus maiores sucessos: "O africano", livro que resgata a sua infância. Quando tinha 8 anos, Le Clézio viajou para a África com sua família, onde seu pai era médico. Foi um reencontro marcante em que o medo, contrastava com o fascínio. A narrativa se desenvolve em torno da juventude de seu pai, de um pequeno período de casados dos seus pais na África, dos anos 60 e da terrível realidade que assombrava o continente africano na época, dominado por tragédias e guerras civis. O livro, tem ilustrações do acervo pessoal dele, figuras que o próprio considera fundamentais em sua memória afetiva.